Apesar de decorridos 36 anos, não se apagaram as versões contraditórias que permanecem sobre as verdadeiras razões do seu falecimento, persistindo especulações de que "foram os soviéticos que o mataram". Mas eis que foi agora introduzido um elemento novo que não deve ser descartado: Neto pode ter sido vítima de assassinato, mas por detrás pode estar a mão da CIA (Agência de Inteligência Americana).
A denúncia consta de uma investigação realizada pela jornalista irlandesa Rory Carroll, que trabalha para o The Guardian e com passagens pelos Balcãs, Afeganistão, Iraque e pela América Latina, sobre a morte do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, concluído em Março de 2013, e divulgado recentemente pelo site da Global Research, num trabalho de Waine Madsen, também noticiarista.
De acordo com os resultados da pesquisa de Rory Carrol, Agostinho Neto poderá ter sido uma das primeiras vítimas de um programa de Assassinato Científico desenvolvido pelo Pentágono por via da CIA, que consistia na transmissão de um vírus causador de cancro. Por via não divulgada, Rory Carrol dá conta que o então presidente terá sido infectado com a "bioarma produzida pela CIA e o vírus propagou-se com celeridade, ocasionando a sua morte em Moscovo", para onde foi transportado, já profundamente debilitado.
Tendo em conta a entidade envolvida e o interesse angolano no conhecimento da verdade, por via de e-mail endereçado à sua embaixada, questionámos os órgãos da Administração Americana, mas, até ao momento do fecho desta edição, não recebemos pronunciamento.
Reportando-nos ainda à investigação levada a cabo pela jornalista islandesa, terá o resultado obtido com a morte de Neto servido de incentivo para a continuidade do desenvolvimento do Programa da CIA, usado para contaminar e assassinar outros estadistas da esquerda, particularmente no continente sul-americano.
O último dos casos, como afirma, terá sido o falecido presidente da Venezuela, Hugo Chaves Frias, cuja morte, a 5 de Março de 2013, se atribui a um cancro que se desenvolveu a partir dos órgãos genitais. Da longa lista referenciada no livro de Rory Carrol, constam também os casos de cancro na garganta do ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, o primeiro que conseguiu recuperação, e de Nestor Kirchener, que não obteve cura.
Os agentes causadores de cancro foram utilizados para infectar as vítimas através de injecção, inalação, contacto com a pele por meio de roupas, especialmente íntimas, como terá acontecido com Hugo Chavez. A jornalista refere que, também, terá sido utilizado por via do sistema digestivo, servindo-se da utilização de alimentos contaminados, bebida e creme dentífrico.Para Rory Carroll, existe um grande manancial de documentação sobre a utilização de armas bio-assassinas para a contaminação de cancro pela polícia norte-americana contra os que são considerados inimigos, e que a existência de tais armas não é questão que coloca dúvidas.
"As únicas questões que intrigam os dirigentes da Venezuela e de outros países onde ocorreram vítimas é determinar como é que os agentes causadores de cancro foram entregues e a identidade dos assassinos".
Ainda como presidente interino, logo após a morte de Hugo Chavez, que, por diversas vezes recebeu tratamento em Cuba, Nicolas Maduro denunciou que Chavez tinha sido atingido por um "ataque científico" que partiu de "inimigos históricos" da Venezuela, numa alusão aos americanos. Na altura, um destacado dirigente do Departamento de Defesa dos EUA considerou "que a ideia era absurda". Mas, para o dirigente do Partido Comunista Russo, Gennady Zyuganov, não pode ser apenas coincidência o facto de seis líderes da esquerda terem sido vítimas de cancro em torno do mesmo tempo.
O próprio Fidel Castro, segundo Rory Carroll, terá sido vítima de tentativa de assassinato biológico pela CIA e alertado várias vezes Hugo Chavez: "Essas pessoas (os americanos) têm desenvolvido tecnologia. Você é muito descuidado. Tome cuidado com o que você come, o que lhe dão para comer ... um pouco de agulhas e eles injectam- no com não sei o quê"…
A VULNERABILIDADE NAS CIMEIRAS
A jornalista refere que Fidel Castro quase morreu de uma doença misteriosa no estômago e intestinos que contraiu após participar numa cimeira de Cúpula dos Povos, realizada em simultâneo em Julho de 2006, em Cordoba, e da MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) com Chavez e Nestor Kirchner.
Na obra, Rory Carroll referencia que, nessa ocasião, um alto funcionário da Embaixada dos EUA em Buenos Aires manifestou o desagrado de Washington com a presença de Fidel Castro e de Hugo Chavez em Córdoba, com Kirchner: "O que era notável sobre a cimeira foi o grau em que a Argentina e o Brasil, os dois protagonistas do MERCOSUL, desde a sua fundação, desempenharam papéis secundários nesta cimeira, enquanto Chavez e Castro dominaram.
Rory recorda que, dos três participantes da Cúpula do Povo, Kirchner e Chavez estão agora mortos. Kirchner morreu de um súbito ataque cardíaco, e um cancro agressivo começou a desenvolver-se a partir da região pélvica de Chavez, que antes de morrer disse que a probabilidade de tantos líderes latino-americanos terem cancro em desenvolvimento ao mesmo tempo era "difícil de explicar".
PROIBIÇÃO DE USO E POSSE DE ARMAS BIOLÓGICAS
Carroll escreve, igualmente, que os registos sobreos estudos, ensaios e desenvolvimento das armas assassinas biológicas dos Estados Unidos da América já foram desclassificados e estão disponíveis, embora muitos tenham sido destruídos pela CIA por ordem do director Richard Helms, no início dos anos 1970.
Conquanto as armas biológicas e tóxicas tenham sido proibidas (uso e posse), a partir de 1972, por força de uma convenção ratificada pelos Estados Unidos, a então União Soviética e a Grã-Bretanha, uma Divisão de Operações Especiais do Centro-Army Intelligence Agency em Fort Detrick, Maryland e uma área técnica da CIA continuou a manter e a desenvolver stocks de agentes biológicos causadores de cancro, utilizados na entrega de armas especiais.
Os agentes biológicos e as suas armas foram desenvolvidos especificamente como parte do projecto top secreto MKNAOMI, uma operação conjunta conduzida pela CIA e pelo Instituto US Army Medical Research de Doenças Infecciosas (USAMRIID), em Fort Detrick. Mas, o uso de agentes de guerra biológica pela América que causam cancro teve o seu início muito antes do início da Guerra Fria e as primeiras vítimas de tais armas eram latino-americanos.
A autora escreve que, em 1931, Cornelius P. Rhoads, um racista branco e cientista norte- americano antilatino, em colaboração com o Instituto Rockefeller para Investigações Médicas em San Juan, submeteu 13 porto-riquenhos a experiências, injectando-os com agentes biológicos causadores de cancro.
O chefe do Partido Nacionalista de Porto Rico, Pedro Albizu Campos, também conhecido como El Maestro, interceptou uma carta a que P. Rhoads redigiu para um amigo em que dava conta do seu trabalho sujo e desumano: "O que a ilha precisa não é de saúde pública, mas sim de uma onda gigante ou algo para exterminar totalmente a população. Ela pode, então, tornar- se habitável. Eu tenho feito o meu melhor para promover o processo de extermínio, matando uns e transplantando cancro em vários outros.
Nestes últimos não resultou ainda em quaisquer mortes até agora... A questão de consideração pelo bem-estar dos pacientes não desempenha papel aqui - na verdade, todos os médicos se deliciam aos abusos e à tortura dos indivíduos infelizes".
Pedro Albizu Campos queixou-se à Liga das Nações, mas não obteve sucesso. Em 1950, também foi preso numa operação contra actividades nacionalistas porto-riquenhos e submetido a queimaduras de radiação e envenenamento. P. Rhoads também dirigiu os programas de armas químicas e biológicas do Exército em Fort Detrick, a Dugway Proving Ground e Deseret Test Center, em Utah, e da Zona do Canal do Panamá, por vingança submeteu Pedro Albizu Campos às suas experiências. Sofreu um derrame na prisão em 1956, em 1964 foi perdoado, mas morreu pouco depois de sua libertação da prisão em 1965.
DE CASTRO A LUMUMBA
O desenvolvimento do programa de armas biológicas MKNAOMI, de acordocom a investigação de Rory Carroll, visava também os assassinatos de Fidel Castro e do então primeiroministro congolês, Patrice Lumumba. O trabalho sobre essas armas foi realizado pelo chefe de Serviços Técnicos da CIA, Dr. Sidney Gottlieb. Outros programas de armas bioguerra afiliadas da CIA e do exército dos EUA tinham os nomes de código de DORK e muitas vezes CHICKWIT.
O Instituto Nacional do cancro, no desempenho das suas actividades de cura, foi desmembrado numa agência de inteligência para esculpir um projecto sob cancro Viral, que envolveu pesquisas e aplicações militares de agentes biológicos causadores de cancro. O trabalho foi centrado em Fort Detrick e, após a Convenção de 1972 sobre a guerra biológica assinada pelo presidente Richard Nixon, o trabalho secreto sobre "a produção em larga escala de vírus oncogénicos e suspeitos continuou com o resultado líquido em 1977, com o sucesso da produção de 60.000 litros de vírus oncogénicos e imunossupressores".
Em 1970, o vice-director da CIA, Thomas Karamessines, recomendou que, se a proposta de Convenção da guerra biológica foi ratificado, o arsenal de agentes de bioguerra da CIA devia ser transferido de Detrick para o Centro da Becton - Dickinson Empresa de Pesquisa Huntingdon, em Baltimore.
O segredo de desenvolvimento do programa do Pentágono em Fort Detrick da mesma instituição foi incluído no seu stock de toxinas botúlicas que podiam causar intoxicação alimentar. Outra pesquisa incluiu a transmissão de aerossol de vírus causadores de cancro e a produção de "espécie do vírus", que foram ensaiadas em espécies animais para os seres humanos, com a intenção de contaminação da doença.
CADA VEZ MAIS LONGE DA VERDADE
Com a introdução desses dados, fica cada vez mais distante a verdadeira causa da morte de Agostinho Neto que, segundo os próprios russos, se terá devido ao excessivo consumo de bebidas alcoólicas. Um agente russo destacado em Luanda, Karen Brutentz, citado por José Milhazes no livro O Princípio do Fim da União Soviética, refere que as autoridades soviéticas não queriam que Agostinho Neto fosse operado em Moscovo, pois sabiam do seu real estado de saúde, mas, por outro lado, não podiam recusar para "não afectar a credibilidade do país".
Pode ter sido mesmo isso, quando também se colocam na história do comunismo, exemplos que confirmam a hipótese levantada de que "Neto terá sido mesmo despachado, por não se ter vergado ao domínio do Kremlin".